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E AGORA resposta com sr antônio nakamura
E AGORA resposta com sr antônio nakamura

                                                                              E agora?
Edição 474 - Publicado em 01/Fevereiro/2008 - Página 21

Caro leitor, sabe quando alguém lhe faz aqueeela pergunta? É... é isso mesmo que você está pensando... aquela pergunta sobre algum conceito budista ou sobre a visão budista perante assuntos do cotidiano. E, então, você pensa: “E agora?”.
Por isso, a TC resolveu “dar uma mãozinha”. Criou esta seção e convidou seis pessoas para participar. A cada edição, um de nossos convidados responderá à pergunta enviada por você, leitor. Se preferir, não se identifique; envie apenas a questão, as iniciais de seu nome, cidade e estado em que reside para:

Antonio Nakamura, vice-presidente da TCGI

Pergunta:

"Sou iniciante na prática budista e me identifico muito com a filosofia.
Porém, não consigo me livrar do sentimento de culpa, da sensação de que estou traindo o Deus que até então estava seguindo.
O Budismo de Nitiren Daishonin em momento algum fala em Deus.
Em que, afinal, os budistas acreditam?"
E. M., São Paulo, SP.
E agora, Antonio Nakamura?

Estimado leitor, agradeço profundamente por sua questão, bastante recorrente entre os que iniciam a prática budista.
Vou procurar oferecer uma resposta simples e clara, com base em conhecimentos e experiências adquiridos com a prática budista.
Eu me converti ao Budismo Nitiren em 1976, quando tinha 23 anos de idade. Antes, seguia o catolicismo por tradição, pois morava no interior do Paraná, onde predominava essa religião. Quando eu tinha 11 anos, minha mãe faleceu, e isso fez com que eu fosse fortemente induzido a freqüentar a igreja e rezar para tentar compreender sobre a vida e a morte. Por morar e trabalhar na zona rural, estudava à noite e normalmente caminhava sozinho pela estrada sem iluminação. O medo do escuro e da solidão (comum naquela circunstância), fez-me apegar a Deus, de quem esperava proteção e alívio.
Vindo para São Paulo, com o objetivo de continuar os estudos num curso superior e também trabalhar, fixei residência em uma rua na qual morava uma família de praticantes budistas. Depois de vários convites, participei de minha primeira reunião de palestra, que, confesso, não me atraiu de imediato exatamente pela controvertida questão sobre aquilo em que eu ainda acreditava. No entanto, ao participar de outras reuniões e iniciar a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo (Daimoku),1 algo muito forte começou a mudar em meu íntimo, embora soubesse que persistia aquela sensação de “estar traindo o Deus” a quem me devotava.
Com o tempo, entre prática das orações (Gongyo e Daimoku) e participação nas atividades, notei que um sentimento de liberdade começava a se manifestar em minha vida. De fato, ao analisar o porquê do medo, do receio de “estar pecando”, percebi que tudo era conseqüência do próprio ensinamento cristão sobre punição. Tudo o que aprendia nos princípios budistas se encaixava nessa mudança de conceito. Ficava fascinado com as interpretações e explanações que recebia dos meus dirigentes da época. Aos poucos, o sentimento de culpa foi substituído por uma alegria imensa — minha mente se tornava clara.
Compreendi que o “Deus” que eu buscava fora, no alto do firmamento, se encontrava em mim mesmo, no meu interior. Quando percebi isso, o sentimento de culpa transformou-se num misto de alívio e prazer. O estudo sobre a Lei Mística, possibilitou-me entender que a vida é a própria manifestação dessa lei e, assim, com a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, ela se evidencia cada vez mais como uma luz de sabedoria e imensa gratidão natural a tudo.
Uma frase atribuída a Karl Jung (1875-1961), psiquiatra suíço, diz: “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta”. Enquanto eu procurava Deus lá fora, vivia na ilusão. Despertei-me para a realidade da vida quando senti que toda energia cósmica do Universo, que muitos tentaram identificar como a força divina, encontrava-se em mim mesmo e eu podia fazê-la emergir com a recitação do Daimoku.
O budismo não afirma e nem nega a existência de Deus. Uma explicação objetiva sobre isso é que o budismo surgiu cerca de meio milênio antes do cristianismo. A base dogmática do cristianismo é o judaísmo, a mais antiga das três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), que acreditam na teoria criacionista e, portanto, no “Deus Criador”, conforme exposto no Livro do Gênesis da Bíblia. Embora na literatura sobre o budismo encontremos o termo “deuses budistas”, não se refere ao plural de Deus; é apenas um ajuste da semântica, para traduzir termos originais das linguagens veda, sânscrita (da Índia antiga), chinesa e japonesa.
No estudo da origem das diversas religiões, deparamo-nos com um ponto comum de que os seres sempre buscam o retorno à sua origem. Daí o termo “religião”, do latim religare, que significa religar-se a uma entidade.
Há uma frase que utilizo para expressar a tradução do Nam-myoho-rengue-kyo: “Dedico a minha vida à Lei Mística de Causa e Efeito, que se manifesta em todos os fenômenos”. De forma superficial, foram exatamente os fenômenos, em especial, os da natureza, que fizeram com que o Homem, no decorrer da história, percebesse a existência de uma força poderosa por detrás deles. Por desconhecer a origem dessa força, as pessoas começaram a denominar os fenômenos como divindades específicas, criando-se, assim, as crenças mitológicas ou politeístas. O monoteísmo resulta da unificação de todas essas divindades imaginadas pelo Homem num único ser — o “Deus Criador”.
Para o budismo, a energia cósmica do Universo é essa força, que naturalmente se manifesta quando e onde há um ambiente favorável. Essa energia, ou essência da vida do Universo, é a que chamamos de Nam-myoho-rengue-kyo. Dessa forma, recitar o Daimoku corresponde também a “religar-se” à energia original da qual todos os seres vivos são oriundos. E mais: Nitiren Daishonin é conhecido como Buda Original, porque revelou a Lei Original, que governa todos os fenômenos da vida, dos seres vivos e do próprio Universo.
Espero, com essa breve explicação, ter respondido à sua questão.
Muito obrigado, um grande abraço!
nota
1. Daimoku: Grande Título do Sutra de Lótus.